sexta-feira, 1 de novembro de 2013

annabarbara.com

Lembro de quando tinha uns 9 ou 10 anos e minha mãe colocou um computador enorme num quartinho excluído da casa. Meu irmão e eu nem sabíamos o que fazer. Só podia usar depois da meia-noite, já que a internet era discada e custava caro. Entramos num bate-papo da Uol, no qual existiam salas específicas pra todos os tipos de gente : pra criança, pra adulto, pra gays, pra torcidas organizadas, pra religiosos...

Quando cliquei para entrar na sala Para Crianças de Até 10 Anos, o site me perguntou meu apelido. Sem pensar, digitei Anna e entrei. Ao ver os apelidos usados dentro da sala (Gatinho Sarado, M!L@ 0lh0s v3rd3s, Moreninha de São Gonçalo) rapidamente retornei à página e troquei meu apelido por G@tinha – o arroba era sempre no primeiro A).

Devidamente apresentada ao bate-papo, descobri seus macetes para engatar uma conversa: sempre perguntar para a sala toda “ALGUÉM QUER TC??” e então aguardar uma ou mais respostas. Depois, era só perguntar sobre a pessoa – e se falasse que tinha 15 anos ou mais era logo descartado por medidas de segurança. Todos respondiam minhas perguntas com respostas belíssimas que me faziam imaginar o quão era energizante ter todos aqueles “amigos virtuais”.

Minha mãe resolveu dar uma olhada em como estávamos nos desenvolvendo com toda aquela tecnologia e viu meus amiguinhos perguntando minha idade, minha aparência, meus hobbys e eu, respondendo tudo direitinho, com um certo receio para não dar informações demais. Ela pegou o teclado e respondeu à tudo com mentiras. Aquilo me deixou irritada! Porque você tá mentindo pra eles? Eles são meus amigos! Sai daqui, você não sabe usar a internet! Minha mãe riu e disse que eu que não sabia mexer naquilo ainda, que todos na internet mentem.

E aí o mundo se abriu pra mim: todos eram loiros de olhos azuis, todos eram altos e sarados, todos os rapazes sempre tinham 2 anos a mais que eu. Começou a diversão. Percebi que estava lá só pra viver uma vida fake, mesmo. Não importava se eu dissesse que era loira, já que ninguém nunca iria descobrir. Eu poderia ser o que quisesse.

Analisando pelos dias de hoje, o conceito da internet não mudou muito. O que mudaram foram os meios. Hoje em dia, no facebook, as pessoas fingem ter uma vida perfeita, postando fotos de viagens, de festas, de namorado, de academia. Postam frases de efeito, com autorias contestáveis. Postam frases engraçadinhas, pra mostrar senso de humor. Até fotos de comida são postadas, pra mostrar... pra mostrar o quê, mesmo?

Enfim, o bate-papo da Uol perdeu sua popularidade, mas ainda existe. E suas intenções de uma vida fantasiosa e maravilhosa ainda existem dentro de todos os usuários da rede.